quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Professor!

Professor: Um Cidadão Digitalmente Incluído?

A cultura do séc.XXI está intimamente ligada à idéia de interatividade, de interconexão diversa e crescente, tudo isso se deve à questão da expansão das tecnologias digitais.
As TIC ganharam espaço na sociedade, na economia, no trabalho industrial, no lazer, nas casas, estão assim presentes em forma maciça no cotidiano da sociedade.
Todavia a presença das TIC, nos processos educacionais, ainda não ganhou seu espaço merecido.
Nas escolas as TIC devem adequar-se às necessidades dos projetos políticos pedagógicos de cada unidade, colocando-se a serviço de seus objetivos e nunca os determinando. Portanto o computador pode sim dar contribuições relevantes às aulas, mas tudo depende de como se faz o uso das TIC.
Esbarramos ai com o despreparo pedagógico do professor. Para Philippe Perronoud (2000), “o ofício do professor está se transformando: trabalho em equipe e por projetos, responsabilidades crescentes, pedagogias diferenciadas, centralização sobre os dispositivos e práticas inovadoras são algumas competências emergentes, que deveriam orientar as formações iniciais e contínuas do professor reflexivo.”
Perrenoud ainda elenca 10 grandes famílias de competências que devem ser desenvolvidas pelo novo profissional. O desafio não é simples ao professor porque além da inclusão dessas competências é preciso preparar os alunos para trabalharem com um universo tecnológico. É útil lembrar Seymour Papert, em “A Máquina da Criança”, onde uma professora de informática se sentia cada vez mais ultrapassada pelo ritmo das crianças e numa aula foi confrontada por uma pergunta que não sabia responder e sequer entendia, então fez um novo pacto com os alunos. Ela passaria a orientá-los nas suas aquisições das capacidades da informática e deixaria de ser uma repassadora de conteúdos.
Assim corrobora Moran (2006) “o educador continua sendo importante, não como informador nem como repetidor de informações prontas, mas como mediador e organizador de processos”.
Não podemos esquecer que o professor, assim como qualquer indivíduo, é um ser histórico e traz consigo influências de sua geração e de paradigmas filosóficos-ceintíficos que norteiam suas epistemologias. Portanto, para toda prática e ação há um paradigma norteador.
Historicamente, no final do séc. XIX e todo o séc. XX, a ciência foi regida pelo paradigma cartesiano-newtoniano introduzido por Galileu Galilei e posteriormente expandido por Descartes, firmado no pensamento positivista, no culto ao intelecto, na formação técnica buscando o conhecimento através da razão e de experimentação. O paradigma cartesiano-newtoniano gerou uma revolução tecnológica propiciando produção e desenvolvimento na sociedade e impregnou-se na educação através de uma visão fragmentada e racional do saber. Assim as conseqüências desses pressupostos em sala de aula foram em forma da reprodução do conhecimento, na memorização do conteúdo, de temas fracionados. A ética, solidariedade, sensibilidade, respeito mútuo e singularidade foram esquecidos pela sociedade e principalmente dos ambientes educacionais em detrimento aos conhecimentos técnicos e especializados.
Nesse contexto a educação no Brasil se estabeleceu através de uma prática conservadora caracterizada por três abordagens: tradicional, escolanovista e tecnicista embora em épocas diferentes todas têm como característica fundamental a reprodução do conhecimento.
A mudança no paradigma científico, através das contribuições da física quântica, química, da biologia e da matemática, iniciada com Lamarck, final séc.XIX, depois por Max Planck (1900), Einsten (1905) e mais recentemente Prigogine(1986), Moraes(1997) e Capra(1998) traz em resumo, o conceito de pensamento sistêmico, visão não linear, o mundo como uma rede, a inter relações, o universo como uma teia, a idéia de movimento, de totalidade, de espontaneidade, de criatividade.
Para definir um novo paradigma educacional compatível com as mudanças da sociedade do séc.XXI e com o uso das TIC na educação, Behrens (1998) propõe uma aliança entre três abordagens: holística, progressista e o ensino com pesquisa, a qual foi chamada como paradigma emergente e paradigma inovador e atualmente chamada de paradigma da complexidade.
Contudo não basta, hoje, trabalhar com propostas de modernização da educação, é preciso repensar a dinâmica do conhecimento às novas funções do educador deste processo. (DOWBOR)
Não é apenas a técnica de ensino que muda incorporando as tecnologias. È a própria concepção de ensino que tem que repensar seus caminhos.
O uso de novas tecnologias poderá contribuir para novas práticas pedagógicas desde que esteja baseada em novas concepções do conhecimento de aluno, de professor, de metodologia e avaliação.
O professor deve então ser um cidadão digitalmente incluído. Há vários níveis de inclusão e graus de apropriações das TIC. Alguns acham que inclusão digital pressupõe colocar computadores à frente dos alunos e ensiná-los a utilizar programas ou até apenas passar slides no projetor e fazer uma leitura de imagens.
Para Lévy (2006) “está destinada ao fracasso toda e qualquer análise da informatização que esteja fundada sobre uma pretensa essência dos computadores”.
Há muitas possibilidades de uso e integração das TIC no âmbito educacional e mais especificamente em sala de aula, mas nem todas as possibilidades são aproveitadas porque podem ainda estar invisíveis aos olhos do professor.
As TIC são importantes apenas se soubermos utilizá-las e assim as TIC sem a educação, conhecimento e sabedoria que permitam o seu real aproveitamento levam-nos apenas a fazer mais rápido e em maior escala os mesmos erros.
Sem o conhecimento e organização social correspondente, construímos uma modernidade com “pés de barro”, um luxo de fachada que não engana mais ninguém.
A práxis educativa, pela sua natureza multidisciplinar, exige estarmos abertos às novas contribuições teóricas ao processo ensino-aprendizagem, sejam elas oriundas da pedagogia, sociologia ou da inteligência artificial.

Paula

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